O efeito ilusório das doações nas lives em tempos de isolamento social
- Wellington de Souza
- 19 de abr. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 24 de abr. de 2020
Desde meados de março de 2020 vivemos uma situação atípica. O isolamento social.
Dentro desse período diversos famosos e celebridades, bem intencionados têm colocado a sua fama à disposição do entretenimento da população confinada através de shows transmitidos de suas próprias casas, enquanto milhares de reais e de quilos de alimentos são arrecadados e noticiados ali, ao vivo para o público. Gestos louváveis.
Então você que está lendo este artigo pode se perguntar: Mas se as pessoas estão se divertindo e as doações estão sendo recebidas, qual o problema? Que tal efeito ilusório das doações nas lives é esse que este autor está falando?
E respondendo à sua pergunta, gostaria de te fazer uma outra pergunta: Quem na sua cidade você conhece que foi beneficiado(a) com quaisquer recursos oriundos dessas “live-campanhas”? Seu vizinho? Seu parente? Seu amigo? A amiga do namorado da sua prima?
A grande questão é que tais doações não alcançam a todas as pessoas que neste momento estão passando por dificuldades, mas passa uma imagem de abrangência nacional. E quando eu digo dificuldades, estou dizendo falta de comida na mesa, falta de sabão para lavar as mãos e se proteger do Coronavírus, dentre tantas outras tantas necessidades.
Quando há uma exposição de tantos recursos sendo distribuídos, porém não se presta contas dos mesmos chegando ao destino, na ponta, cria-se uma falsa impressão de que todas as pessoas já estão sendo ajudadas, de que ninguém mais, inclusive os que estão perto de você, aí na sua rua, estejam precisando de amparo. E aí o que acontece? O sentimento da solidariedade e da empatia, que é a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, aquele que nos move a olhar para o outro com compaixão adormece dentro de nós e nós aqui na ponta paramos de doar, paramos de nos importar.
Trabalhando há no mínimo 11 anos com ajuda aos necessitados de diversos tipos através da ASA - Ação Solidária Adventista, hoje, enquanto eu escrevo este artigo, só aqui na minha realidade sei de 64 famílias que aguardam uma cesta básica que o poder público ainda não conseguiu atender. E os recursos para isso? Onde estão? Muitas vezes nos bolsos daqueles que entendem que já tem muita gente ajudando e que ele(a) não precisa ajudar também e seguem dormindo em seus berços esplêndidos.
Que o efeito ilusório das lives não cegue o seu senso de urgência.
Que os milhares de quilos de alimentos e os milhares de reais arrecadados, que provavelmente não vão conseguir socorrer a nossa comunidade local não sejam uma desculpa para que você e eu nos voltemos apenas às nossas próprias necessidades, mas que sejamos a diferença na vida do nosso próximo.

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